segunda-feira, 15 de novembro de 2010

O "Pé de Caju".


"Eu nasci em baixo de um Pé de Caju", foi o que sempre ouvi meu pai afirmar. Na verdade, meu pai nasceu com parteira em casa, só que numa casa feita de taipa, erguida nesse pé de caju em Vertente do Lério, cidadezinha que fica depois de Surubim e próximo a divisa com a Paraíba. Foi lá que conheci o famoso "Pé de Caju". Quando o pessoal estava andando até o "cajueiro", pelo meio da caatinga, ouvio-se um barulho de porta se abrindo... e casa tinha? Tinha era nada... era assombração pelo meio da estrada. Hoje só tem mesmo o tronco da árvore marcando o nascimento de Um Severino - que só recebeu esse nome porque foi promessa de um parto difícil.

Uma vida completamente rural - casa grande e mesa farta: Buchada, Mão de vaca, Fava, Dobradinha, Cuscuz, Queijo feito do leite da vaca que fica no cercado ao lado da casa; comida feita no fogão de lenha. Lá também tinha porco, cabra, bode, cavalo, galinha... Transporte era somente o jegue e a besta, hoje nós temos moto e toyota pra levar essa gente pra cima e pra baixo. Numa estrada de barro, vizinho não se via, só tinha mesmo era uns pingado de casa, longe uma da outra, mas todo mundo se conhecia.
De dia sol quente, de noite vento frio.

Histórias de assombração tomavam conta da gente deitado em cadeiras de balanço e rede. "A noite é trevas." Comadre Florzinha, lobisomem e homem que virava bicho: cachorro, porco e cavalo. De madrugada quando se ouvia um barulho na cozinha, todo mundo sabia que era a "Cumadre Florzinha". Quando o cavalo ficava correndo dentro do cercado era a comadre montando nele e se ela não gostasse do dono, logo lhe deixava uma trança de presente no rabo do bicho. Pra espantar ela, tinha que lhe oferecer pirão e fumo, pra nunca mais ela voltar a incomodar.

Bebês pagãos eram enterrados ilegalmente na encruzilhada, seja por nascer morto ou por ser aborto; quando se passava de noite, ouvia-se o choro de menino novinho - um choro penoso... Aí tem que se parar diante da cova improvisada e batizar a criançada: "Se for menino, te batizo Emanuel em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, Amém. Se for menina, te batizo Maria em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, Amém" e aí, nunca mais se ouvia o choro dessa criancinha.

Foi muita história que ouvi nesses dias, umas bem divertidas e outras de dar arrepio. Mas uma vida rural não é moleza não, se trabalha muito. Que ninguém pense que é só rede e brisa. Se levanta cedo todo dia, amarra a vaquinha pra tirar o leite, prepara o queijo, alimenta os bichos... cuida da terra.

Nunca mais vou esquecer da vez que visitei Vertente do Lério pela primeira vez.

Nenhum comentário:

Postar um comentário