sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Florbela Espanca


Ódio?


Ódio por ele? Não… se o amei tanto,

Se tanto bem lhe quis no meu passado,

Se o encontrei depois de o ter sonhado,

Se à vida assim roubei todo o encanto…


Que importa se mentiu? E se hoje o pranto

Turva o meu triste olhar, marmorizado,

Olhar de monja, trágico, gelado

Como um soturno e enorme Campo Santo!


Ah! Nunca mais amá-lo é já bastante!

Quero senti-lo doutra, bem distante,

Como se fora meu, calma e serena!


Ódio seria em mim saudade infinda,

Magoa de o ter perdido, amor ainda.

Ódio por ele? Não…não vale a pena.



Conto de Fadas


Eu trago-te nas mãos o esquecimento
Das horas más que tens vivido, Amor!
E para as tuas chagas o ungüento
Com que sarei a minha própria dor.


Os meus gestos são ondas de Sorrento…
Trago no nome as letras duma flor…
Foi dos meus olhos garços que um pintor
Tirou a luz para pintar o vento…


Dou-te o que tenho: o astro que dormita,
O manto dos crepúsculos da tarde,
O sol que é de oiro, a onda que palpita.


Dou-te, comigo, o mundo que Deus fez!
Eu sou Aquela de quem tens saudade,
A princesa de conto: “Era uma vez…”

Nenhum comentário:

Postar um comentário