sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Florbela Espanca


Ódio?


Ódio por ele? Não… se o amei tanto,

Se tanto bem lhe quis no meu passado,

Se o encontrei depois de o ter sonhado,

Se à vida assim roubei todo o encanto…


Que importa se mentiu? E se hoje o pranto

Turva o meu triste olhar, marmorizado,

Olhar de monja, trágico, gelado

Como um soturno e enorme Campo Santo!


Ah! Nunca mais amá-lo é já bastante!

Quero senti-lo doutra, bem distante,

Como se fora meu, calma e serena!


Ódio seria em mim saudade infinda,

Magoa de o ter perdido, amor ainda.

Ódio por ele? Não…não vale a pena.



Conto de Fadas


Eu trago-te nas mãos o esquecimento
Das horas más que tens vivido, Amor!
E para as tuas chagas o ungüento
Com que sarei a minha própria dor.


Os meus gestos são ondas de Sorrento…
Trago no nome as letras duma flor…
Foi dos meus olhos garços que um pintor
Tirou a luz para pintar o vento…


Dou-te o que tenho: o astro que dormita,
O manto dos crepúsculos da tarde,
O sol que é de oiro, a onda que palpita.


Dou-te, comigo, o mundo que Deus fez!
Eu sou Aquela de quem tens saudade,
A princesa de conto: “Era uma vez…”

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Disposto.


"Os opostos se distraem
Os dispostos se atraem."

O amor é nada mais do que disposição.
Tem-se de estar disposto a livrar-se de tudo,
Inclusive, de si mesmo.

E você, está disposto a que?

Não se entra num relacionamento pensando em ser feliz.
Entra-se num relacionamento disposto a fazer o outro feliz.

Mas calma com o "fazer o outro feliz"; lembre-se da sua dignidade.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Erros tão comuns.


Um dos maiores erros que podemos cometer é ficar estressado e descontar na nossa mãe - a única pessoa que você tem certeza que daria a vida por você.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Indivisível.


Eu queria ser uma pessoa indivisível... mas, às vezes, pautamos nossa felicidade em outra pessoa e - aí - já somos nucleares.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

O "Pé de Caju".


"Eu nasci em baixo de um Pé de Caju", foi o que sempre ouvi meu pai afirmar. Na verdade, meu pai nasceu com parteira em casa, só que numa casa feita de taipa, erguida nesse pé de caju em Vertente do Lério, cidadezinha que fica depois de Surubim e próximo a divisa com a Paraíba. Foi lá que conheci o famoso "Pé de Caju". Quando o pessoal estava andando até o "cajueiro", pelo meio da caatinga, ouvio-se um barulho de porta se abrindo... e casa tinha? Tinha era nada... era assombração pelo meio da estrada. Hoje só tem mesmo o tronco da árvore marcando o nascimento de Um Severino - que só recebeu esse nome porque foi promessa de um parto difícil.

Uma vida completamente rural - casa grande e mesa farta: Buchada, Mão de vaca, Fava, Dobradinha, Cuscuz, Queijo feito do leite da vaca que fica no cercado ao lado da casa; comida feita no fogão de lenha. Lá também tinha porco, cabra, bode, cavalo, galinha... Transporte era somente o jegue e a besta, hoje nós temos moto e toyota pra levar essa gente pra cima e pra baixo. Numa estrada de barro, vizinho não se via, só tinha mesmo era uns pingado de casa, longe uma da outra, mas todo mundo se conhecia.
De dia sol quente, de noite vento frio.

Histórias de assombração tomavam conta da gente deitado em cadeiras de balanço e rede. "A noite é trevas." Comadre Florzinha, lobisomem e homem que virava bicho: cachorro, porco e cavalo. De madrugada quando se ouvia um barulho na cozinha, todo mundo sabia que era a "Cumadre Florzinha". Quando o cavalo ficava correndo dentro do cercado era a comadre montando nele e se ela não gostasse do dono, logo lhe deixava uma trança de presente no rabo do bicho. Pra espantar ela, tinha que lhe oferecer pirão e fumo, pra nunca mais ela voltar a incomodar.

Bebês pagãos eram enterrados ilegalmente na encruzilhada, seja por nascer morto ou por ser aborto; quando se passava de noite, ouvia-se o choro de menino novinho - um choro penoso... Aí tem que se parar diante da cova improvisada e batizar a criançada: "Se for menino, te batizo Emanuel em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, Amém. Se for menina, te batizo Maria em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, Amém" e aí, nunca mais se ouvia o choro dessa criancinha.

Foi muita história que ouvi nesses dias, umas bem divertidas e outras de dar arrepio. Mas uma vida rural não é moleza não, se trabalha muito. Que ninguém pense que é só rede e brisa. Se levanta cedo todo dia, amarra a vaquinha pra tirar o leite, prepara o queijo, alimenta os bichos... cuida da terra.

Nunca mais vou esquecer da vez que visitei Vertente do Lério pela primeira vez.

domingo, 7 de novembro de 2010

Fernando e Isaura.


(...) Nossas vidas nunca são obscuras ou tão de nossa exclusiva propriedade quanto desejaríamos. E é um erro julgar que ninguém se oculpa de nós pelo simples fato de nos contentarmos em viver nossa vida, deixando em paz a dos outros. (...)

...é que o amor humano, qualquer que seja ele, desata o coração dos que amam e, mesmo por vias tortas, aproxima-os de Deus. Era o que estava começando a acontecer a Fernando e Isaura, sem que, no entanto, eles soubessem discernir claramente o que se passava, em segredo, no íntimo um do outro. (...)
Ariano S.

sábado, 6 de novembro de 2010

Curiosidades de particularidades.


(Observando)


Eu tenho esse jeito moleque de ser. De alguém que não tem pressa em viver. Tem que ser uma coisa de cada vez. Como se a vida fosse um filme: um frame por vez e vinte e quatro frames por segundo. Ser moleque nos dá uma liberdade de observar o mundo com os olhos de um curioso. Olhos de esperança. E como ninguém é de ferro, cometemos erros. Vários erros. Erros bobos. São tantos os erros que cometemos. Erros pequenos, mas que fazem toda a diferença.
Hoje eu acordei tão animada. Eu não sou uma pessoa caseira. Isso, as vezes, é ruim porque não consigo curtir o ócio por muito tempo, aí fico a observar as pessoas... elas passam por mim o tempo todo e sempre tem algo a nos dizer, uma história a nos contar sobre suas tristezas e alegrias. O legal é que elas contam suas histórias sem saber que estão falando... é só parar e observar (...) quando me entedio da vida que levo eu olho as pessoas e vejo o quanto somos esquecidos. Esquecidos de olhar para nós mesmos, daí então, me vejo com melhores olhos.
As pessoas estão do lado de quem se ama e ainda reclamam. Amar é assim mesmo? Difícil? Daqui de fora parece ser tão simples...


(Observando)

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Autor


Ângela é uma curva em interminável sinuosa espiral. Eu sou reto, escrevo triangularmente e piramidalmente. Mas o que está dentro da pirâmide - o segredo intocável, o perigoso e inviolável - esse é Ângela. O que Ângela escreve pode ser lido em voz alta: suas palavras são voluptuosas e dão prazer físico. Eu sou geométrico. Ângela é espiral de finesse. Ela é intuitiva, eu sou lógico. Ela não tem medo de erra no emprego das palavras. E eu não erro. Bem sei que ela é uva sumarenta e eu sou a passa. Eu sou equilibrado e sensato. Ela está liberta do equilíbrio que para ela é desnecessário. Eu sou controlado, ela não se reprime - eu sofro mais do que ela porque estou preso dentro de uma estreita gaiola de forçada higiene mental. Sofro mais porque não digo porque sofro.



C.L.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Me diga, pra que pressa?


Me diga, pra que pressa

Se quando ando depressa

Tudo fica de passagem?


Me diga, pra que pressa

Se quando a gente corre

A paisagem da rua se morre?


Me diga, pra que pressa

Se comer rápido engasga

E toda forma de apreciar o paladar se rasga?


Me diga, pra que pressa

Se mesmo quando me arredio

A vida mostra logo um desafio?


Me diga, pra que pressa

Se, com sabedoria,

Um filho não se cria da noite para o dia?


Me diga, pra que pressa

Se uma árvore plantada

Não pode ser arrancada?


Me diga, pra que pressa

Pois se o dia teve que anoitecer

É porque tinha que acontecer?


Me diga, pra que pressa

Se tudo acontece

Quando tem que acontecer?