domingo, 31 de janeiro de 2010

feedback


Eu estava lendo Clarice.

Ela me inspira de todas as formas.

Eu gosto da maneira como ela organiza suas palavras: eu me encontro nelas.

Não há o obscuro quando eu me encontro.

A tristeza não é um erro.

Eu a tenho utilizado para conhecer minhas limitações.

Tenho feito dela um recurso para meu autoconhecimento e para, enfim, superar meus defeitos.

A sensibilidade faz parte da minha essência.

O choro é em mim provocado por esse meu lado sensível.

Tudo o que faz parte da minha essência não é um erro.

Eu não sou um erro.

Talvez eu tenha tomado uma ou outra decisão equivocada (e eu tenho tomado decisões errôneas), mas nada que eu não possa remediar.

Tudo faz parte do meu aprendizado.

Esses dias eu estava vasculhando minhas coisas: encontrei uma série de recordações e, no meio delas, achei uma carta.

“Eu escrevi uma carta” – pensei lembrando-me do sentimento contido nela.

Eu havia esboçado em um papel palavras que almejei terem sido lidas.

No entanto, essa carta nunca foi entregue.

Foi o escrever mais solitário que obtive: escrever para um Alguém que estava ‘além-longe’ de mim.

É um escrever até mais solitário do que escrever para você mesmo – quando se escreve para si, a mensagem chega ao seu destino.

“Tantas foram as vezes que re-li esta mesma carta” – pensei novamente.

Re-li como se fosse possível de ser ouvida no instante da minha solidão.

Agora, essas palavras estão dentro do vazio do meu ser, guardadas dentro de um caixote junto a outras recordações.

O que eu faço com elas?



Esta lembrança ainda me é muito presente: lembro-me dela sem dor, mas com uma fina tristeza no plano de fundo da minha vida.

Como eu disse: tudo faz parte do aprendizado.

A vida segue...

A minha está seguindo: escrevendo, militando, cantando, dançando, bebendo, falando, falando muito, trocando umas idéias, mudando de opnião, fortalecendo meus argumentos e, principalmente, aprendendo.

Eu estava lendo Clarice, agora to lendo Clarice e Schopenhauer ^^




Militante Steh :D

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

O baile dos calçados.



Fui ao baile como todos daquela cidade.

Cometi o “pecado” de menosprezar a vaidade.

Precária era a cor do meu batom.

E o lápis: retirei no banheiro por conta de um cisco no olho.


Minha vaidade estava nos pés... Mas ninguém olhava para o chão.

Ninguém enxergava a beleza além-face-pintada.

No meu desleixo, tropeço e perco um dos meus sapatos.

Durante o baile, me vi invisível: um sapatinho perdido que ninguém encontrou.

Fiquei deslocada; eu não era igual àquela gente.

Tantos foram os que dançaram.

Apenas os pés calçados tiveram o prazer de desfrutar do salão.

E eu?! Rejeitada fiquei. Sem um pé e sem um par.

Ninguém foi buscar meu sapatinho. Pois só queriam os pés que já estavam calçados.

Fiquei do mesmo jeito que saí de casa.

Só que agora, sem calço por conta do pé descalço.

Durante a noite, os encantos foram todos se desfazendo aos pares.

Eu não tinha encanto para ser desfeito.

Princesa sem carruagem, nem maquiagem.

Voltei para casa na lama da chuva.

Enquanto a chuva que caía, encharcando os meus cabelos, percebi uma melodia suave trazida pelas esquinas vazias da rua.

Fechei os olhos.

Era uma melodia vinda da harmonia entre o vento, a chuva e os arbustos.

Foi quando alguém falou próximo ao meu ouvido “com esse sapato nunca irá dançar com formosidade, mocinha.”

Ele aproximou-se, gentilmente, do meu tornozelo direito e com delicadeza retirou o sapato que me restava.

Somente então percebi que seus pés estavam nus também.

Olhei o sorriso que havia em seus olhos e inevitavelmente esbocei o meu.

No instante seguinte éramos dois pares de pés descalços que dançavam no salão de lama na praça.

O ato de rodopiar na lama era de uma formosidade inexplicável.

Quando a chuva passara, eu estava encharcada e descalça.

Mas não sem um par, não sem ter dançado.



Stephanie Saskya

sábado, 23 de janeiro de 2010

Um estado do coração.


É tristeza que não se explica.

Só se sente.

Só se chora todo por dentro...

É um estado vegetal do coração.

Que nem morre e nem vive.

E vegetando ele permanece.


Tristeza é bom para a inspiração.

Vira mania: organizar as palavras.

Procurar as letrinhas certas.

E expressar num papel, o intraduzível.

Ainda não ta pronta.

Ainda não to pronta.

Ainda to triste.






Stephanie Saskya.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Um paralelo num minuto.


Como se fosse possível, naquele momento, conter minhas lágrimas...

07h45min da noite. Era mais um dia agitado na faculdade: eu usava a mesma pulseira, a mesma mochila nas costas, o cabelo preso de modo mais leve e estavam presentes os meus milhares de pensamentos diários. Mas aquele dia era diferente. Era um dia que ficava no meio da segunda semana consecutiva sem diálogo. O ar daquela terça-feira se diferenciava dos demais por estar mais pesado, tão pesado ao ponto de me esmagar e me empurrar para o invisível aos olhos das pessoas. O engraçado é que somente agora notei que eu era só mais uma: mais uma colega de sala, mais uma estudante, mais uma a tirar xérox, mais uma a pegar o ônibus, mais uma garota a ser flertada, mais uma nisso, mais uma naquilo, mais uma... Foi aí que me choquei com a nova verdade: eu não fazia diferença! ...tanto fazia está como não estar ali... Todo o amor que transbordava todos os dias dentro de mim foi ficando doente. Porque eu acredito no amor-diário, acredito que podemos amar todos os dias de formas diferentes pessoas diferentes em locais diferentes. Você percebe o amor-diário ao receber uma flor feita com os canudos da lanchonete, o amor-diário na ora de abraçar alguém, o amor-diário quando se estende a mão para panfletar e te dizem “não. Obrigado!” (pelo menos ele me disse obrigado), o amor-diário na hora do perrengue quando é você que tem que segurar a onda, o amor-diário nas piadas que na hora você morre de rir e logo depois percebe: “que merda”, o amor-diário ao ouvir uma frase “sem noção”, o amor-diário sempre que me vem as boas lembranças e elas vem sempre. Logo em seguida me vi enfurecida, afinal de contas, se tanto fazia eu está como não estar ali é porque devo ir embora, devo ir porque a nascente do meu amor transbordante não era apenas ter, mas sentir os amigos perto de mim. E eles continuaram sendo meus amigos, só que agora eu não os sentia mais, eu passava despercebida por eles. Tudo era uma questão de falta de comunicação. E naquela terça-feira o ar me esmagou porque os vi de costas. Nesse exato momento tentei puxar da memória uma lembrança parecida com esta, mas só lembro-me de vê-los do meu lado. O que eu haveria de fazer diante dessa nova realidade imposta a mim? Então tomei uma decisão pouco antes de ouvir: “ei, o que houve? Você estava do nosso lado e de repente ficou parada no tempo”. Eu olhei para o relógio: 07h46min da noite: “vem doidinha, vamos assistir a aula, depois você nos conta o que aconteceu...” como se fosse possível, naquele momento, conter minhas lágrimas de alegria: tudo estava no mesmo lugar!