domingo, 27 de outubro de 2013

Noites de insônia.

Diante do espelho eu me vejo de cabelos desgrenhados e ponho a camisola lilás de renda. Vejo meus seios e lembro o quanto eles pesam. Chego a sentir dor agravada pela gravidade. Forçam-me a uma leve curvatura de minha imagem refletida. Olho para meu corpo de curvas mal feitas, como em traços certos, porém feitos de primeira. Quem ousou me desenhar, não me fez rascunho. Fez-me pronta. Como numa tela que o artista deixa, sem querer, cair um pingo de tinta de uma cor qualquer e a partir disso fez dele parte essencial de mim. Fez-me ainda mais bonita. Uma tela de formas abstratas. Termino de por a camisola e imagino como seria ser desejada assim, desta forma, espontaneamente viva. E como seria bom poder dividir estas bobagens. Mas por enquanto, eu me deito de luzes apagadas e acomodo meus seios para que o peso do meu corpo não os machuque como forma de vingança, por eles terem machucado tanto a coluna. É o peso de uma fartura mal explorada. Uma beleza que não pode ser vista. Uma delicadeza que não pode ser percebida ou acariciada. Ainda no escuro tento captar meus mistérios. Eu não consigo os mistérios, não consigo chegar até eles. Pessoas misteriosas são mais interessantes e não precisam, necessariamente, ter segredos para envolver os outros em mistério puro. Segredos despertam a curiosidade, que quando saciada, adormece o indivíduo. O misterioso é um tipo que quanto mais se aprofunda, mais desejo desperta. Talvez o segredo para aqueles que são deficientes de mistério seja manter algo sempre em segredo para que a curiosidade nunca seja saciada. Será esse o verdadeiro mistério?

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