Hoje, a tarde está boa para leituras. O silêncio reina como alguém que encontra a paz. Vento bom refresca-me por entre os cabelos e me eleva os olhos ao céu. Sinto-me quase de frente para o mar de tão azul e infinito. Estamos no outono, mas aqui as folhas não secam, continuam verdes e o verde torna o ar mais úmido. Dentro de casa, todos encontram-se em silêncio, o que é uma raridade. Pois, quando não gritam, deixam a televisão gritar por eles. Os cachorros da vizinha latem esporadicamente, mas estes nunca me incomodam. Eles me alegram como se fossem meus, só que não preciso dar banhos ou limpar suas fezes. Os filhos dela também não me incomodam, é claro que tenho preguiça em devolver a bola que cai em meu quintal toda vez que tocam na minha campainha, porém eles me lembram a infância saudável que tive. Fico cogitando a hipótese: e se agora eu fosse criança, seria amiga deles e jogaríamos bola por cima do muro incansavelmente até nossas mães nos chamarem para tomar banho e jantar. Quem me dera todas as crianças do mundo tivessem uma infância feliz. Agora eu escuto com calma os insetos e animais, que vivem nos matos, comunicarem-se. Cigarras, pássaros, mosquitos, besouros... todos prenunciando a noite que está se aproximando. Gostaria que o tempo parasse por alguns segundos neste entardecer crepuscular, assim, eu poderia terminar minha leitura de cento e sessenta e sete páginas, que acabo de começar, para que a escuridão e o barulho de pessoas não chegassem antes do desfecho dessa minha vida particular e ficcional.
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