domingo, 13 de março de 2011

Autopsicografia.


O poeta é um fingidor.

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,

Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,

Esse comboio de corda
Que se chama coração.


Fernando Pessoa.

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